sábado, 26 de outubro de 2013

Amor, solidariedade e compaixão, ingredientes de uma sopa

Por Arthur Möller, Luan Gonçalves, Matheus Abreu e Paulo Eduardo (Edu Oliveira)

Sopa é distribuída em viaduto da capital mineira

Foi realizada na última sexta-feira (25), mais uma edição do Sopão Mineiro, evento voluntário semanal, que tem o objetivo de distribuir alimentos aos usuários de drogas e mendigos de Belo Horizonte. O movimento, que nasceu em 1980, vem ganhando adeptos a cada ano.

Em média, são distribuídos mais de 200 litros de sopa a cada reunião, além de pães que acompanham a refeição. Segundo o voluntário Hugo Henrique Diniz, o Movimento de Promoção e Assistência Social Sopão Mineiro, é uma grande contribuição para a sociedade. “Sempre que posso venho ajudar a distribuir os alimentos para os mais necessitados. Se pudéssemos, certamente faríamos todos os dias, mas temos consciência de que estamos contribuindo de uma maneira importante”, afirmou.

Os organizadores promovem a atividade em diversas regiões de Belo Horizonte. Somente no Viaduto Santa Tereza, foram distribuídos aos moradores de rua 46 pratos de sopa. A contadora Andrea Trindade passava pelo local e ficou surpresa com o que viu. “É muito importante que as pessoas se unam a favor das outras. Somos muito abandonados pelos políticos, por isso, esse tipo de iniciativa é fundamental para que possamos ter uma sociedade melhor”.

Quem quiser ser um voluntário do Sopão ou conhecer as datas dos próximos eventos pode acessar o site: www.sopaomineiro.org.br.

"Tomando sopa de garfo"


Ele aparenta ter entre 30 e 35 anos, tem a pele queimada pelo sol, cabelos encaracolados e barba por fazer. Seus olhos negros e arregalados desconfiam da movimentação diferente que se forma do outro lado da pista. Está muito magro e com as roupas rasgadas. Conhece cada metro daquele viaduto, afinal, por algum motivo ele é a sua casa. Senta por um instante e observa as pessoas e suas feições.

Quando se forma uma fila perto daquela Kombi, do outro lado da avenida e ao pé do viaduto, se atenta, como num súbito suspiro de alma. “O que será que está havendo?”, ele deve se perguntar. Vê também que algumas pessoas como ele se aproximam do carro, e então resolve verificar o que há. Atravessa enquanto os carros aguardam a ordem semafórica e aos poucos se aproxima dos demais.

Viver daquele modo o deixou apreensivo, desconfiado e tímido. Investiga com os colegas, e finalmente se propõe a aguardar na fila também. Esfrega as mãos quando vê que era real. Ali, pessoas distribuem sopa e pães e, por isso, abre um breve sorriso. Não lembrava mais qual o último motivo que o levou a mostrar os dentes.

Ansioso, aguardou sua vez e quando chegou, firmou o corpo, como soldados no quartel. Respondeu os cumprimentos dos voluntários e estendeu as mãos para receber o alimento. Sentiu-se invencível quando seu nariz se encontrou com o aroma da comida. Andou depressa, e se escorou na parede de sua casa, bem ao lado da pichação que dizia: “Não vai ter copa”.

Saboreou como quem respira após se afogar. Estava saltitante pelo simples fato de jantar naquele dia. Terminou, se assentou e permaneceu assim por alguns minutos. Novamente parecia refletir sobre algo. Não se conteve e levantou-se calmamente.

Quando retomava o caminho de onde veio, foi questionado sobre como era viver na rua. Não titubeou, olhou para trás e afirmou: “Difícil, que nem tomar sopa de garfo”. O homem continuou sua caminhada até desaparecer no horizonte.

Por um mundo melhor


Semanalmente, o movimento Sopão Mineiro distribui 400 litros de sopa e 250 pães, a desabrigados e pessoas carentes. Além disso, são desenvolvidas outras três ações: assistência a gestantes carentes, assistência à saúde e desospitalização psiquiátrica/serviço residencial terapêutico. Na primeira delas, as mães recebem acompanhamento psicológico, fisioterápico e orientação médica.

Como complemento, são ministradas palestras e todo o enxoval do bebê é doado. Na segunda ação, a população de rua é abordada, orientada e transportada nos casos de saúde de urgência e emergência. Essas pessoas são levadas aos hospitais após serem higienizadas. Por fim, há também o abrigo de pacientes rejeitados pelas próprias famílias. O objetivo é que estes sejam reintegrados à sociedade.

 Para Fernanda Lopes, de 19 anos e mãe de quatro filhos, o auxílio tem sido fundamental para a criação de Bryan, 4, Gilbert, 2, e os gêmeos Jesus e Maria, 1. A jovem é usuária de crack desde a adolescência, o que lhe traz enormes prejuízos, pois o vício da droga a impede de proporcionar uma vida tranqüila aos filhos. “Não tive apoio de meus pais, e saí de casa muito cedo. Na rua, tive contato com coisas muito ruins, como as drogas”, contou, com os olhos lacrimejados.

Fernanda trava uma luta diária com o vício, porém, é derrotada constantemente. O que ameniza a situação é justamente o apoio que recebe do movimento Sopão Mineiro. Além do alimento, ela é beneficiada com acompanhamento psiquiátrico, o que a permite conversar, semanalmente, com um profissional que a orienta quanto à dependência química.

O psicólogo José Alves, 61, que acompanha o caso há seis meses, afirma que Fernanda se apresenta bem em algumas semanas, mas, em outras, se mostra transtornada. Para ele, a mudança no comportamento é natural, pois é um dos reflexos do vício do crack.

“Procuramos ajudar os beneficiários do movimento de todas as formas. O problema é que muitos desaparecem, e não dão continuidade ao tratamento. A Fernanda é uma exceção, pois está conosco, no mínimo, uma vez por semana”, explicou José Alves.

O preço da solidariedade


Ao fazermos um levantamento do preço médio de cada um dos ingredientes de uma sopa, constatamos que, para preparar uma panela de 200 litros do alimento, gasta-se, no mínimo, R$ 72,92. Levando em conta que o movimento Sopão Mineiro distribui 400 litros de sopa toda sexta-feira, são gastos R$ 148,84 por semana.

Sendo assim, por mês, o movimento desembolsa R$ 583,36 para sustentar àqueles que, muitas vezes, não tem o que comer e passam horas, até dias, sem se alimentar.

400 litros de sopa distribuídos semanalmente em Belo Horizonte
Foto: Jéssica Amaral

3 comentários:

  1. AMOR, SOLIDARIEDADE E COMPAIXÃO, INGREDIENTES DE UMA SOPA
    Por Arthur Möller, Luan Gonçalves, Matheus Abreu e Edu Oliveira
    Sopa é distribuída em viaduto da capital mineira
    Foi realizada na última sexta-feira (25), mais uma edição do Sopão Mineiro, evento voluntário semanal que tem o objetivo de distribuir alimentos aos usuários de drogas e mendigos de Belo Horizonte. O movimento, que nasceu em 1980, vem ganhando adeptos a cada ano.
    Em média, são distribuídos mais de 200 litros de sopa a cada reunião, além de pães que acompanham a refeição. Segundo o voluntário Hugo Henrique Diniz, o Movimento de Promoção e Assistência Social Sopão Mineiro (-1) é uma grande contribuição para a sociedade. “Sempre que posso, venho ajudar a distribuir os alimentos para os mais necessitados. Se pudéssemos, certamente faríamos todos os dias, mas temos consciência de que estamos contribuindo de uma maneira importante”, afirmou.
    Os organizadores promovem a atividade em diversas regiões de Belo Horizonte. Somente no Viaduto Santa Tereza, foram distribuídos aos moradores de rua 46 pratos de sopa. A contadora Andrea Trindade passava pelo local e ficou surpresa com o que viu. “É muito importante que as pessoas se unam a favor das outras. Somos muito abandonados pelos políticos. Por isso, esse tipo de iniciativa é fundamental para que possamos ter uma sociedade melhor”.
    Quem quiser ser um voluntário do Sopão ou conhecer as datas dos próximos eventos pode acessar o site www.sopaomineiro.org.br.
    "TOMANDO SOPA DE GARFO"
    Ele aparenta ter entre 30 e 35 anos, tem a pele queimada pelo sol, cabelos encaracolados e barba por fazer. Seus olhos negros e arregalados desconfiam da movimentação diferente que se forma do outro lado da pista. Está muito magro e com as roupas rasgadas. Conhece cada metro daquele viaduto, afinal, por algum motivo ele é a sua casa. Senta por um instante e observa as pessoas e suas feições.
    Quando se forma uma fila perto daquela Kombi, do outro lado da avenida e ao pé do viaduto, fica atento, como num súbito suspiro de alma. “O que será que está havendo?”, deve se perguntar. Vê também que algumas pessoas como ele se aproximam do carro, e então resolve verificar o que há. Atravessa enquanto os carros aguardam a ordem semafórica e, aos poucos, aproxima-se dos demais.
    Viver daquele modo o deixou apreensivo, desconfiado e tímido. Investiga com os colegas, e finalmente se propõe a aguardar na fila também. Esfrega as mãos quando vê que era real. Ali, pessoas distribuem sopa e pães e, por isso, abre um breve sorriso. Não lembrava mais qual o último motivo que o levou a mostrar os dentes.

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  2. Ansioso, aguardou sua vez e, quando chegou, firmou o corpo, como soldados no quartel. Respondeu os cumprimentos dos voluntários e estendeu as mãos para receber o alimento. Sentiu-se invencível quando seu nariz se encontrou com o aroma da comida. Andou depressa, e se escorou na parede de sua casa, bem ao lado da pichação que dizia: “Não vai ter Copa”.
    Saboreou como quem respira após se afogar. Estava saltitante pelo simples fato de jantar naquele dia. Terminou, assentou-se e permaneceu assim por alguns minutos. Novamente, parecia refletir sobre algo. Não se conteve e levantou-se calmamente.
    Quando retomava o caminho de onde veio, foi questionado sobre como era viver na rua. Não titubeou, olhou para trás e afirmou: “Difícil, que nem tomar sopa de garfo”. O homem continuou sua caminhada até desaparecer no horizonte.
    POR UM MUNDO MELHOR
    Semanalmente, o movimento Sopão Mineiro distribui 400 litros de sopa e 250 pães a desabrigados e pessoas carentes. Além disso, são desenvolvidas outras três ações: assistência a gestantes carentes, assistência à saúde e desospitalização psiquiátrica/serviço residencial terapêutico. Na primeira delas, as mães recebem acompanhamento psicológico, fisioterápico e orientação médica.
    Como complemento, são ministradas palestras e todo o enxoval do bebê é doado. Na segunda ação, a população de rua é abordada, orientada e transportada nos casos de saúde de urgência e emergência. Essas pessoas são levadas aos hospitais após serem higienizadas. Por fim, há também o abrigo de pacientes rejeitados pelas próprias famílias. O objetivo é que estes sejam reintegrados à sociedade.
    Para Fernanda Lopes, de 19 anos e mãe de quatro filhos, o auxílio tem sido fundamental para a criação de Bryan, 4, Gilbert, 2, e dos gêmeos Jesus e Maria, 1. A jovem é usuária de crack desde a adolescência, o que lhe traz enormes prejuízos, pois o vício lhe impede de proporcionar uma vida tranquila aos filhos. “Não tive apoio de meus pais, e saí de casa muito cedo. Na rua, tive contato com coisas muito ruins, como as drogas”, contou, com os olhos lacrimejados.
    Fernanda trava uma luta diária com o vício, porém, é derrotada constantemente. O que ameniza a situação é justamente o apoio que recebe do movimento Sopão Mineiro. Além do alimento, ela é beneficiada com acompanhamento psiquiátrico, o que lhe permite conversar, semanalmente, com um profissional que a orienta quanto à dependência química.
    O psicólogo José Alves, 61, que acompanha o caso há seis meses, afirma que Fernanda se apresenta bem em algumas semanas, mas, em outras, se mostra transtornada. Para ele, a mudança no comportamento é natural, pois é um dos reflexos do vício do crack. “Procuramos ajudar os beneficiários do movimento de todas as formas. O problema é que muitos desaparecem e não dão continuidade ao tratamento. A Fernanda é uma exceção, pois está conosco, no mínimo, uma vez por semana”, explica José Alves.

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  3. O PREÇO DA SOLIDARIEDADE
    Ao fazermos um levantamento do preço médio de cada um dos ingredientes de uma sopa, constatamos que, para preparar uma panela de 200 litros do alimento, gasta-se, no mínimo, R$ 72,92. Levando em conta que o movimento Sopão Mineiro distribui 400 litros de sopa toda sexta-feira, são gastos R$ 148,84 por semana.
    Nesse sentido, o movimento desembolsa R$ 583,36 por mês para sustentar àqueles que, muitas vezes, não têm o que comer e passam horas, até dias, sem se alimentar.
    400 litros de sopa distribuídos semanalmente em Belo Horizonte - Foto: Jéssica Amaral
    25/25

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